sábado, 30 de agosto de 2008

containers, desenhos dobrados, tempo e contas 1991-95

leap

still
container
fantasma/ghost

fantasma

tatiana grinberg


fantasma tem frente e verso separados por um fino plano de vidro através do qual vemos sua estrutura que nos encara incógnita - como? nosso reflexo sutil sobre a máscara aderida que suspende o objeto à altura do olhar. fechado em aberto, mutante simbiótico entre a vida e morte da imagem.


ghost



ghost has a face and a verso detached by a thin glass plane through which we can see its structure that confronts us disguised - how? our subtle reflex over the adhered mask which holds the objects at sight level. closed as receptive, symbiotic mutant between images's life and death.


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Continentes

O conjunto da instalação proposta por Tatiana Grinberg apresenta, à primeira vista, certa sensação de familiaridade, em seu 'aspecto médico', hospitalar, ao carregar um conjunto de referências ao corpo, suas proporções, sua presença ou ausência. A referência direta ao corpo funciona, imediatamente, arrancando o espectador - presente enquanto corpo que invade o espaço de exposição - para fora de si, de encontro ao poder de envolvimento e fascinação do 'outro', da obra.

Os trabalhos provocam uma primeira inversão, virando o corpo
do espectador ao avesso.

Também o espaço é perturbado em seu sossego institucional, posto em contato com as curiosas relações internas instauradas pelos objetos, num tráfego aparentemente auto-contido, mas que simultaneamente transborda seus próprios limites: tensionando o entorno, provocando a emergência de uma região ultra-ativada, que a tudo dissolve, a todos captura. Cada peça pode ser isolada em seu universo próprio: uma delas, resulta do confronto de uma seção de esfera de vidro contra a sua outra parte transformada, derretida (Still); outra, estabelece uma relação de proporcionalidade entre dois diferentes materiais - vidro e silicone -, criando um colar de contas que registra um tempo circular, contínuo e interrompido (Leap). A tensão se dá no vazamento, eminente, das narrativas internas dos objetos para o espaço ambiental. Daí o espelho perfurado, recortado, colado ao solo, cheio d'água na quantidade limite possível, prestes a transbordar (Container) - "ilha em negativo", água cercada de matéria por todos os lados.

A perturbação do espaço em sua inércia física conduz à construção
de um local imantado, ultra-ativado, individualizado.

Ao atravessar este espaço ocupado por campos de atração intensiva de vários tipos, o indivíduo defronta-se com uma presença "fantasma" do corpo: o efeito colocado em ação pelo trabalho diz respeito a tornar presente, visível, esta ausência: construir moldes de corpos entre os objetos, como parte integrantes da instalação. Tais moldes exercem um irresistível movimento de captura do espectador, que se vê assim face to face com estruturas que produzem uma forma corporal outra: o que sou afinal? A pergunta é processada especificamente por uma peça de vidro, presa à parede na altura do olho, como um espelho que produz um reflexo da face dissolvida em silicone (Fantasma). As resinas e plásticos sintéticos estão entre os materiais que mais perfeitamente imitam a textura e a cor da pele humana, produzindo próteses com menores índices de rejeição pelo organismo, ajudando a embaralhar, mais uma vez, os limites do natural e do artificial. Se as dúvidas constróem resistências à redundância dos padrões orgânicos, rebelando-se ao seu comando e descortinando novos horizontes, a ênfase na irredutível presença de um corpo indica limites e contenções, talvez mais claramente visíveis quando inscritos nos ciclos temporais orgânicos do corpo feminino.

O olhar repotencializado pelos objetos retorna ao próprio corpo
que o produziu, derretendo, desmaterializando, dissolvendo-o.

As idéias de transformação têm exercido apelo decisivo para a cultura contemporânea. Em todos os setores, a reverberação de um 'outro' indica o caminho a ser seguido, para fora dos próprios limites - aparentemente tediosos – do indivíduo. Modulações, ondulações, transformações, passagens, deslocamentos, metamorfoses: o tempo é irreversível, os processos caóticos são criativos, e a instabilidade e o acaso ao mesmo tempo animam e transcendem o culto ao presente imediato. A instalação de Tatiana Grinberg coloca em ação um todo mutante, uma gestalt móvel, irrequieta, em que os objetos, os corpos, as pessoas, são diversos estados coexistentes de uma coisa só. O que é isso, que pode ser ao mesmo tempo espelho, vidro, silicone, aço, matéria orgânica - ou melhor, que percorre todas essas formações, continuamente, de modo tão rápido que mal podemos rastrear? O olhar topológico atento não deixa de ressaltar as passagens, os estados intermediários de um espaço que nunca está imóvel ou neutro. Importam as superfícies, as membranas, as regiões de contato, a contigüidade; cada nova presença esbarra nas outras, reconfigura o todo - aderências, repulsões, atrações... Só assim é possível, concretamente, escapar da pressão generalista e construir um local, com funcionamento radicalmente diverso; é este o caminho da intervenção, enquanto deflagradora de outros movimentos; desse modo constitui-se uma ambiência, com suas exigências físicas sobre o espectador. Se estamos falando de arte, é apenas como um funcionamento posterior, resultado de um processo que deixa marcas, manchas estranhas, cicatrizes no corpo, no tempo e no espaço.

Os fluxos entre corpos e coisas produzem diferentes estados,
envolvendo tudocom transformações em processo contínuo.




Containers
Ricardo Basbaum

As a whole, Tatiana Grinberg's installation inspires a certain feeling of familiarity. At first sight, its 'medical' 'hospital' references evoke the human body, its proportions, its presence and absence. Direct reference to the body immediately captures the spectator - bodies invading the exhibition's space - from within themselves, dragging them out towards the fascination of the 'other', towards the work of art's power to involve.


The works provokes an inversion, turning the spectators' body
inside out.

Space is also disturbed in its institutional quietness, and makes contact with the strange inner relations established by the objects in an seemingly self-contained transit. Nevertheless, the limits themselves are subverted by means of a tensioning of its contour, which provokes the emergence of an all-dissolving, all-capturing hyper-activated region. Each piece of work can be isolated within its own universe. One of them (Still) is the result of the confrontation between a glass-made sphere section and its transformed, melted-down counterpart.
Another one (Leap) establishes a relation of proportionality between two different materials - glass and silicone - creating necklace of beads, which that registers a circular, continuous and interrupted time. Tension takes place in the imminent leakage of the objects' internal narrative towards environmental space. Hence the perforated, cut out mirror (Container) fixed to the ground and filled with water up to its brim, the utmost limit which is about to be trespassed - a "negative island", where water is totally surrounded by matter.
The disturbance of space in its physic inertia leads to the construction
of a magnetised, hyperactivated, individualized spot.

Once this space is crossed - a space occupied by intensive attractions of various kinds - he individual faces the 'ghostly' presence of the body: the effect which the work sets in motion refers to the transformation of this absence into something present and visible : the construction of contours of bodies between the objects as parts of the installation. Such contours exert an irresistible movement to capture the spectator, who thus sees him/herself face to face with structures which produce a diverse bodily form, and asks : What am I, then?
This question is particularly processed by a piece made of glass (Ghost), hung from the wall at eye level, like a mirror, which produces a reflection of the face dissolved in silicone. Synthetic resins and plastics are among materials which imitate best the skin's texture and colour. They are used to make prostheses which present the lowest rejection rates in organism, and thus help to question the limits between natural and artificial. If doubts constitute a resistance against the redundancy of organic patterns, if it is a rebellion against its command which opens new perspectives, the emphasis given to irreducible presence of a body indicates limits and contentions, maybe more clearly visible as they are inscribed in the temporal cycle of the female body.

The re-potentiated glance towards the objects turns its focus
to the body which has produced it,
melting it, dematerialising it, dissolving it.

Ideas about transformations have had an irresistible appeal to contemporary culture. In all its forms, the vibrations of an 'other' beckon the path towards the outside of the individual's (apparently tedious) own limits. Modulations, undulations, transformations, passages, displacements, metamorphoses : time is irreversible, whereas chaotic processes are creative, and both instability and chance animate and transcend the cult of the immediate present at the same time. Tatiana Grinberg's installation puts in motion a mutant whole, a moving, unquiet gestalt, in which all objects, bodies, and persons are seen as different coexisting states of one single entity. What is it that can at the same time be a mirror, glass, silicone, steel, and organic matter - or better still, that at the same time and continually traverse all those formations in such a rapid manner that we can barely notice it? An attentive topological viewpoint always stresses the passages, the intermediate conditions of a space which is never still or neutral. What really matters is the surfaces, the membranes, contact areas, the contiguity, each new presence which touches the existing ones and redesigns the whole - adherence, repulsion, attraction... Only thus it is concretely possible to escape from generalizing pressure and to define a local which functions in a totally different fashion; this is the way to the intervention as a trigger for other movements; thus an environment is constituted, presenting new physical requirements from the spectator. I am talking here about art as a posteriori mechanism, a result of a process which leaves signs, strange smears, scars on the body. on time, and on space.


The flux between bodies and things produce different states,
which involves everything in a continuous process of transformation.



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