sábado, 30 de agosto de 2008

avessos > morro da conceição > casas


cortes 2004-07












cortes
tatiana grinberg

silenciosos e afiados, camuflam-se refletindo o ambiente - e assim também o englobam. requisitam quem se aproxima. 

o espaço é cortado por um plano - movimento, olhar interrompido, bloqueio retrovisor. observação: o plano tem incisões e o olhar também pode passar, atravessar o bloqueio que o reflete. diminuida ainda a distância, o corpo é parado, extremidades cruzam a superfície pelas perfurações, fragmentam-se. a visão através é obstruída, preenchida, e as partes se duplicam, soltas, sobre cada lado refletidas. 

corte que talha superfícies, plano ferido, punção que vê. corte em pedaços, plano que cega, furo que dobra.

cuts

silent and sharp, disguise themselves reflecting the ambient - camouflage enclosing its surroundings. they require those who come near.

space is cut by a plane - movement, sight is interrupted, rear-view blind. observation: the plane has incisions and sight can traverses, crossing the blockage that reflects it. still shortened the distance, the body is stopped, extremities crosses the surface through perforations, fragmented. vision through is obstructed, filled, and sections are duplicated, detached, on each side reflexed. 

cut that chops the surfaces, wounded plan, puncture that sees. cut into pieces, blinding plane, doubling hole.

coluna 2005


cubos casados 2005


peles (tear) 2004-05


peles (tear)
pelo, pele, ninho de linhas atados por nós. desperta, levanta o chão, veste o espaço em branco de cor. apelo à superfície, apego à pele, afago sem voz. envolve o cobertor, tapete pelado, colchão de rancor. pode manchar o ambiente, derramar o avesso, despir a dor. descola aberta, passagem entre tato e visita. porta afiada - expele o corpo.

skins (tear)
fur, skin, nest of lines tied by knots. awaken, stands up the floor, blank space embelish with color. appeal to the surface, attachment to the skin, matress of hatred. can wash the ambience, spill inside out, strip pain. unfastened open, passage between touch and call. sharpen door - expells the body.


peles (corpo) 2004-05



Pele como marca de espaçamento
Viviane Matesco

Uma massa corpórea com uma imensa fresta domina nosso olhar. Presa ao teto por seus próprios fios, a superfície de quase 6metros aproxima-se da tonalidade da pele também sugerida pela textura do carpete. Quando a vemos no verso afirma uma carnalidade próxima a de uma mucosa e a parte fendida, correspondente ao recorte da fresta, pende qual um falo a evocar um encaixe positivo e negativo, macho e fêmea. Podemos pensar no Objet-Dart e na Feullle de Vigne Femelle ambos de Duchamp e ainda na frase de Galeno de Pérgamo ‘Vire a vagina para o lado de fora ou vire para dentro e dobre o pênis ; você encontrará a mesma estrutura em ambos, sob todos os aspectos’. A afirmação atesta a crença grega em um único sexo, um continuum corporal com dois pólos que supunha a reversibilidade dos órgãos na genitália masculina e feminina(1). Acoplar partes do corpo como desenhos dobrados relaciona-se à impressão, a processos de gravura como a construção de matrizes, de moldes, de repetição e sobreposição, todos importantes na trajetória e maneira de pensar de Tatiana Grinberg. As marcas, a procura de um espaço ou objeto que signifique a memória de vivências é a questão central em sua investigação plástica. Em trabalhos anteriores moldou mãos em silicone ou ainda o ato de tapar os ouvidos, um espaço ‘entre’, um molde de uma experiência corporal. A idéia do molde e da impressão refere-se tanto à proximidade, quanto à ausência. São índices que permitem enxergar algo presente, mas cujo significado é expresso por uma falta tal qual as pistas nos romances policiais e os sintomas na psicanálise.

A fronteira entre o molde e o que é moldado, entre o positivo e negativo, é a pele. È superfície que permite a visibilidade de algo que está além da visão. A pele varia, discreta, contínua, mal costurada, eriçada, atapetada, historiada, tatuada, nos diz Michel Serres (2). Somos revestidos dessa cera mole onde se reflete um pouco o universo, onde o tempo traça sua passagem, banco de nossas impressões. O mundo é impresso sobre esta roupa de cera que nos oferece um habitat íntimo. Ela se abre para os sentidos e se fecha para o sentido interno, mas continua um pouco aberta.

Um segundo trabalho também realizado no mesmo material e tonalidade apresenta cavidades no formato de partes do corpo, como dedos e mãos, que convidam o espectador à experimentação e ao reconhecimento sensorial dessas mesmas partes moldadas em porcelana. Aqui há um deslocamento, uma suspensão dos sentidos que naturalmente se dão misturados, o que nos permitir usar uma faculdade que evoca outra. O tapete sugere caricia, torna presente um sujeito ativo que toca. O jogo de texturas das superfícies do carpete e da porcelana solicita a relação entre os sentidos ótico e táctil. O sentido espacial aqui é mediado pelo corpo: como o invisível de topologia povoa e ilumina o visível da experiência, na riqueza da sensação táctil(3) parece que toco um abstrato novo. Construído através da relação entre percepção, objetos e ambiente, esse fluxo cria situações de reconhecimento e estranhamento que ora potencializam ou anestesiam os sentidos (4). Isso revela a preocupação dos trabalhos de Tatiana Grinberg em requisitar a propriocepção, um sentido interno que você tem do próprio corpo. Os proprioceptores relacionam-se não a uma única sensação, mas um conjunto delas, como sensação de movimento, de força muscular, de contração e ainda aquelas relacionadas à imagem do corpo. É esse sentimento difuso resultante de sensações internas que envolvem vários sentidos que permite o modelo e imagem que você tem si.

Múltiplos e espalhados, os sentidos nunca atingem a unicidade nem a identidade. Os cinco sentidos se entrelaçam, se amarram, sobre e sob a tela que formam. Referindo-se a constante invocação da carne nos textos sobre a pintura Didi-Huberman (5) analisa o sentido do termo “Incarnat” que designaria o dentro, o informe do interior do corpo, ao mesmo tempo em que a superfície, uma pele. Esta tem tanto um sentido de limite, de separação como também de um intervalo que manifesta o sujeito através de seu colorido. Nosso invólucro estremece, exprime, respira, escuta, ama, recebe, recusa, eriça-se, ruboriza (6). Os órgãos irrigam toda a pele de desejo, de escuta, de vista ou de odor. Ela generaliza a carícia amorosa em emoção, divulga sutilmente o desejo, dilui a escuta ou o olhar. O “Incarnat” seria esse ato de passagem, a oscilação entre superfície e profundidade, uma trança temporalizada entre o branco e o sangue. Lugar de diálogo com as coisas e com os outros, nossa pele é esse entre, define uma marca e é marcada pelo mundo: vemos pela superfície, mas através de um olhar mais profundo.

Rio de Janeiro, maio de 2005

1 TURCHERMAN, Ieda. Breve história do corpo e de seus monstros, Lisboa: Veja, 1999, p. 38 e SENNETT, Richard. Carne e Pedra – o corpo e a cidade na civilização ocidental, São Paulo: Record, 2003, p. 71.
2 SERRES, Michel. Os Cinco Sentidos, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001, p.71
3 Ibid , p.20
4 BASBAUM, Ricardo. “Políticas da percepção” In: Novas Direções, Rio de Janeiro: Itáu Cultural/MAM, 2001
5 DIDI-HUBERMAN, Georges. La Peinture Incarnee, Paris: Minuit, 1985, p.22
6 SERRES, Michel. Op.cit, p.66 e 67



The skin as a spacing mark
Viviane Matesco

A corporeal mass with a huge slit dominates our gaze. Attached to the ceiling by its own threads, its nearly 6-meter surface detaches itself from the architecture like a skin – something which is also suggested by the color tone and texture of the carpet. When we see it from the backside, it manifests a carnality that is akin to a mucous membrane, and the cleaved part which corresponds to the slit cutout hangs like a phallus evoking a positive/negative, male/female interlocking joint. It brings to mind Duchamp’s Objet-Dart and Feuille de Vigne Femelle, and also Galen of Pergamum: “Turn the vagina inside out or turn it in and fold the penis and, in all aspects, you will find the same structure in both of them”. This assertion attests to the Greek belief in one sole sex, a bipolar corporeal continuum that presupposed the reversibility of the organs of the masculine and feminine genitalia (1). The coupling of body parts as folded drawings is related to printing and to printing processes such as the construction of matrixes and molds, of repetition and superimposition, very important elements in Tatiana Grinberg’s career and way of thinking. Nevertheless, printing here does not have the sense of a fixed scheme; it is much more the movement of printing, the impregnation that marks the surface, like in a process that presupposes an ambiguous spatiality where there is no definite limit between ‘inside’ and ‘outside’. The marks and the search for a space or object to signify the memory of experiences is a pivotal issue for the artist. In earlier works, Tatiana Grinberg molded hands in silicone, closed her ears with her hands – an ‘in-between’ space, a space-in-progress, a mold of a bodily experience. The idea of mold and printing refers not only to nearness but also to absence, indexes that allow for the sight of something that is present but whose meaning is expressed by an absence, like clues in a detective novel and symptoms in psychoanalysis.

The border between the mold and the cast, between the positive and the negative, is the skin, a surface that permits the visibility of something that is beyond eyesight. “The skin varies, discreet, continuous, poorly sewn, bristled, carpeted, historicized, tattooed”, as Michel Serres puts it (2). We are coated with this soft wax overlay where the universe is somewhat reflected, where time traces its passing – our impression bank. The world is imprinted onto this wax garment that offers us an intimate habitat. It opens itself to the senses and closes itself to the internal meaning, but it keeps slightly open as an interval that lets itself be suffused with life experiences.

Another work made with the same material and in the same color tone displays cavities shaped like bodily parts such as fingers and hands that invite the viewer to experimentation and to the sensory recognition of these same parts cast in acrylic. There is a dislocation here, a suspension of the senses that naturally come about blended, which allows us to use one faculty that evokes another. The carpet suggests caressing – it renders present an active subject who touches. The play with the textures of the carpet and acrylic surfaces requests a rapport between the optical and tactile senses. Here, the spatial sense is mediated by the body: as the invisible of topology populates and illuminates the visible of experience, it seems that I am touching a new abstract amidst the richness of the tactile sensation (3). Constructed by the relation perception/objects/ambient, this flow creates situations of recognition and strangeness that potentiate or anesthetize the senses (4). This reveals Tatiana Grinberg’s concern in requesting self-perception, that inner sense that one has of one’s own body. Self-perception is not related to one sole sensation but to a group of them, such as the sensations of movement, muscular strength, contraction and the ones related to the body image. It is this indistinct feeling resulting from internal sensations involving various senses that permits the model and the image that one has of oneself.

Multiple and scattered, the senses never attain oneness or identity. The five senses are intertwined and tied above and below the canvas they form. Didi-Huberman (5), in his essays on painting referring to the constant invocation of the flesh, analyzes the meaning of the term incarnat, which would designate the inside, the formless interior of the body and at the same time the surface, a skin, which holds not only a sense of limit, of separation, but also that of an interval that manifests the subject through its coloring. Our outer sheath quivers, expresses, breathes, hears, loves, receives, refuses, gets bristled, blushes. The organs irrigate the skin with desire, hearing, eyesight, odor. It generalizes the amorous caress into emotion, it subtly propagates desire, it dilutes the hearing and the eyesight (6). The incarnat would be this act of passage, this oscillation between surface and depth, a temporalized braid made with the white and the blood. A place of dialogue with the things and the others, our skin is this in-between; it defines a mark and is marked by the world. We see from the surface, but this border means spacing and it reveals a deeper view.


partition, trap and cuts 2003-04



photos: Tatiana Grinberg


photos: Tom Bauer

photos: Tatiana Grinberg
photo: Tom Bauer

falam as partes do todo? 2003




Falam as partes do todo ?
Dani Lima

Esta pergunta me veio à cabeça quando um professor me falou sobre duas formas possíveis de ver a vida - pela perspectiva da floresta ou pela perspectiva da árvore. Acho que durante boa parte da minha vida eu enxerguei pela perspectiva da floresta , perseguia a idéia de unidade, de leis com garantia universal. De uns tempos prá cá o mundo foi acabando com as florestas e acho que fui perdendo minhas garantias. Não sem desconforto, quase todos os dias me confronto com o desejo de saber o que é certo ou errado para guiar meus atos.
Viver sem certezas é viver na insegurança, em movimento constante de reaprendizagem.
Um dia me chegou às mãos uma reportagem do dia 23 de novembro de 2001, onde o presidente Bush fazia um ultimato à população mundial: “ ou estão do nosso lado ou do lado dos terroristas”. Me pareceu ainda mais urgente refletir sobre esta forma fundamentalista de ver o mundo como uma realidade bidimensional. Esta forma de ver que estabelece uma perspectiva parcial como a melhor, senão a única; que pretende encerrar o significado das coisas; que vê as versões como fatos, as partes como todo. Esta forma de ver que nos tenta com suas certezas, generalizações, explicações definitivas e fórmulas infalíveis.
Quando conhecí o trabalho da Tatiana Grinberg, achei que ele falava ao corpo/do corpo de forma aberta, ambígua e caminhava no sentido destas mesmas inquietações. Desta parceria e do encontro com os bailarinos nasceu este projeto, fruto de indagações sobre corpo e espaço como realidades que se constroem em relação.


Do the parts speak of the whole?

This question came to my mind when a teacher told me about two possible ways of perceiving life – through the perspective of the forest or through the perspective of the tree. I think that for longtime I saw life through the perspective of the forest, I have pursued the idea of unity, of universal laws. Lately the world has been destroying the forests and I think I have started to lose my guarantees. It is not a very comfortable way of living, almost every day I face the desire of knowing what is right or wrong in order to guide my actions. Living without assurance is living in uncertainty, in a constant movement of learning again and again.
One day, annewspaper article of November 23rd, 2001 got to my hands, where president Bush made an ultimatum to the world population: “you are either for us or for the terrorists”. It seemed to me very urgent to think over this fundamentalist way of perceiving the world as a bidimensional reality. This point of view that establishes a partial perspective as the best, if not the only one; that intends to enclose the meaning of things; that sees versions as facts, the parts as the whole. This way of viewing that tempts us with its certainty, generalisations, definite explanations and flawless formulas.
When I got to know Tatiana Grinberg’s work, I thought she talked to and about the body in an open and ambiguous way, and she tackled the same issues I did. This project was born from this partnership and the gathering of the dancers, as a response to questions about body and space as realities that are built in relation one to each other.


Sobre “Falam as partes do todo?”
Tatiana Grinberg

Meus trabalhos acontecem como fluxo, processo e experimentação; constroem-se como uma rede de contatos entre corpos, objetos, textos e ambiente, através de situações de reconhecimento/estranhamento. E numa sucessão de potencializações/anestesias do sensível, intrincações de tempos, uma multiplicação das tensões espacializantes, buscam uma nova corporiedade. Interessam aqui as interações, migrações, as transformações ocorridas, as trocas, as marcas.
Quando a Dani me convidou para um projeto em conjunto, foi sugerida a criação de uma obra especialmente para o espetáculo, sendo este baseado na discussão de certas idéias ligadas à minha pesquisa - experência sensorial, reflexividade, espacialidades ambíguas, troca de lugar entre observador e observado; e em temas como identidade e autoria, de interesse de sua cia; além das questões comuns a nós duas - como o uso sentido da propriocepção, a fragmentação dos corpos, a preocupação com presença de um espectador-participante no espaço em cena, a requisição da sua memória/esquecimento, movimentação/interação deste espectador, o uso de textos, etc.
O mais interessante desta mistura é fato do espetáculo apresentar alguns objetos que partiram de temas e demandas específicos dos bailarinos e com os quais eles interagem numa dança sutil, assim como movimentos sem quaisquer objetos que nasceram de conceitos ligados ao meu trabalho de artes plásticas.


About “Do the parts speak of the whole?”

My works take place as flux, process and experimentation. They build themselves as a network of contact between bodies, objects, texts and ambience through recognition/strangeness situations. And by means of a succession of potentiation/anaesthetization of the senses, time’s intricacies and the multiplication of spatial tensions search a new corporeality. It interests here the interactions, migrations, the occurred transformations, the changes, the marks.
When Dani invited me to take part in a group project, the creation of art objects especially for the spectacle was proposed. And the spectacle would be concerned with some ideas related to my research - sensorial experience, reflexivity, ambiguous spatiality, the changing places between observer and observed; with such themes as identity and authorship that interests Dani’s company; as well as some questions we share - the use of the proprioception sense, body fragmentation, the presence of the spectator regarding his participation, the requirement of his/hers memory/oblivion, movement/interaction, the use of texts, etc.
What interests in this mix is the fact that the spectacle introduces some art objects that originated from themes and specific demands from the dancers and with which they interact in subtle dance; as well as some movements done without any art objects which were born out of concepts connected to my art work.


Falam as partes do todo?
Luiz Camillo Osório

O todo não é nunca a soma das partes, é mais que isso. As partes podem ser tudo. A palavra e o corpo são sempre parte e são sempre o todo. Um torso de Apolo é uma parte ou é um todo? Como se passa do movimento para a dança? Onde termina o corpo e começa o espaço?
A escultura e a dança inventam o corpo. A escultura e a dança inventam o espaço. Deslocar. Pesar. Atravessar. Separar. Juntar. Distanciar. Aproximar. Tocar. Andar. O espaço não está lá fora, diante de nós, ele não nasce como figura geométrica. Ele se desenha cotidianamente a partir do movimento do nosso corpo e da vivência de nossos gestos.
Mais do que uma relação entre dança e escultura, o que vemos neste espetáculo é um deslocamento de linguagens, uma metamorfose do corpo em escultura e da escultura em fragmentos orgânicos. Não há uma coreografia e uma cenografia, há corpos, formas e espaços que se reinventam a cada movimento de quem dança e de quem vê e circula. As esculturas da Tatiana existem através da dança, assim como o desenho coreográfico da Dani se fragmenta e se desdobra através dos cortes e dos buracos das peças escultóricas.
Falam as partes do todo? Temos palavras para expressar o corpo? Podemos ver sem palavras? “Há coisas de sobra que não se dizem / há coisas que sobram no que se diz / nossa miséria é uma alegria de palavras?” Um olhar, um gesto, um sim, podem significar tudo e nada – a situação e o momento produzem a diferença.

Marcos Siscar – Metade da arte, 7 letras/Cosac&Naify, 20

Do the parts speak of the whole?

The whole is never the sum of the parts, it is more than this. The parts can be all. The word and the body are always the parts and are always the whole. Is a torso of Apolo a part or is it the whole? How do you go from movement to dance? Where does the body end and where does the space begin?
The sculpture and the dance invent the body. The sculpture and the dance invent the space. Displacing. Weighing. Crossing. Separating. Joining. Going far apart. Coming close. Touching. Walking. The space is not outside, in front of us, it is not born as a geometric figure. It draws itself daily, beginning with the movement of our body and the experience of our gestures.
More than just a relationship between dance and sculpture, what we see in this performance is a displacing of languages, a metamorphosis of body into sculpture, of sculpture into dancing fragments. There are not a choreography and a scenography, there are bodies, shapes and spaces that reinvent themselves at each movement of the one who dances and of the one who watches and goes around. Tatiana’s sculptures exist through the dance, just like Dani’s choreographic design fragments itself and unfolds itself through the cuts and holes of the sculptured works.
Do the parts speak of the whole? Do we have words to express the body? Can we see without words? “There are plenty of things that are not said / there are plenty of things that exceed what we say / is our misery a joy of words?” A look, a gesture. a yes, can mean everything or nothing at all – the situation and the moment make the difference.


espaco em branco entre 4 paredes 2001-2002















espaço em branco entre 4 paredes
tatiana grinberg

assim como perturbamos o ambiente no qual estamos - o modificamos, os espaços também interferem em nós. eles se inscrevem, através da nossa experiência deles, na nossa memória corporal/mental.
interessa nesse projeto a interface entre corpos/arquitetura, relações de espaço e percepção - o roçar da superfície rígida e geométrica com o orgânico. o rostinho colado à parede. o que pode ser visto e o que fica por trás, opaco, ver com o tato, usar a propriocepção.
à meia luz aguarda-nos junto à porta uma construção que, praticamente bloqueia a nossa entrada, expulsando-nos do cômodo. são mock-ups de paredes, tapumes, painéis em mdf que cercam o centro do cômodo criando dentro deste um novo ambiente (este branco e iluminado), o qual podemos observar ao espreitarmos através dos orifícios na superfície dos painéis, ao circularmos pelo estreito corredor à sua volta, tocando o seu interior com dedos e mãos, colocando a orelha junto aos buracos.
ao mesmo tempo em que as paredes/painéis tornam este espaço central inacessível, seus orifícios nos convidam a penetrá-lo. e os mesmos painéis nos empurram contra as verdadeiras paredes do cubo branco/espaço expositivo. habitamos um lugar ambíguo, nos posicionamos nem dentro nem fora, dentro-fora, dentro e fora da obra, entre, em trânsito no corredor circular. as paredes/painéis ora nos protegem, ora oferece o acesso fragmentado, aos pedaços, às partes de corpos, nossos corpos que trocam de posição ora observando, ora sendo observados.



blank space between 4 walls


as much as we disturb the ambient we are enclosed - changing it, also spaces interfere in us. they inscribe themselves, through our experience of them, on our corporeal/mental memory.
what interests in this project is the interface between bodies/architecture, spacial and perceptional relations - the rubbing of the rigid geometric surface against the organic. cheek to cheek with the wall. what can be seen and what lies behind, opaque, to see through touch, using proprioception.
half-lit, waiting next to the door is a construction that almost block our enter, expelelling us from the chamber. mock-ups from walls, partitions, mdf panels encloses the center of the room building inside of it a new ambient (this one white and lit), which we can observe viewing through the orifices on its panels surface, as we circulate the narrow corridor around it, touching its interior with our fingers and hands, placing our ear next to the holes.
at the same time that the walls/panels assemble this central space inaccessesible, its orifices invites us to slip into it. those same panels also pushes us against the real walls of the white cube/exhibition space. we inhabit an ambiguous space, locating ourselves nor inside or outside, inside-outside, inside and outside the work, in between, transiting the circular corridor. the walls/panels protects us still giving a fragmented access, to bits, and body pieces, our bodies which shift observing still being observed.









Cia de Dança Dani Lima, 11º Panorama de Dança do Rio Janeiro, 2002

criação de espaço em branco entre 4 paredes, direção e edição de vídeo: Tatiana Grinberg
coreografia e bailarinas: Dani Lima, Clarice Silva, Mônica Burity e Vivia
n Miller
câmera: João Vargas e André Weller | operador de avid: Célia Freitas