sábado, 30 de agosto de 2008

piercing (line) 1996



Escultura Plural | Tatiana Grinberg
Ligia Canongia

A relação de Tatiana Grinberg com a escultura vem se dando de forma quase "anti-escultórica", na medida que seus objetos buscam a imaterialidade, exaltam a presença do desenho, das linhas, que delimitam o espaço com matérias tênues, líquidas e transparentes. A baixíssima densidade volumétrica desses objetos e o uso regular de planos, quer de vidro, quer de espelho, fazem com que o trabalho seja quase só superfície. Poças de água, poças de espelho, poças de silicone, a utilização frequente de materiais reflexivos ou líquidos vêm justo falar das propriedades moventes e fluidas que interessam ao trabalho como evocação de um tempo como uma não-permanência, um eterno fluir.

Assim os objetos resvalam, fogem à visibilidade plena, escapam na tangência frágil de seus contornos e se desmaterializam.

No trabalho dessa exposição, a artista reforça a idéia da repetição e do movimento como uma continuidade absoluta no tempo.

A série de vidrinhos de remédio tensionados na linha de nylon indica um movimento de entrada e saída da linha pelos vidros como se tal gesto supusesse um ritmo contínuo "ad infinitum". E mais uma vez é o material transparente escolhido. Nele, enquanto se vê o que está refletido, não se vê o trabalho propriamente dito. E o que está refletido também se esvai, se move e some e jamais chega a constituir algo que "pretença" ao objeto.

O não-conter, o não-pertencer, o não-permanecer são conceitos caros à obra dessa artista, que procura afirmar o espaço como um campo aberto e ambíguo, onde tudo pode se tornar visível e invisível em um limite tênue e fugidio.

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